segunda-feira, março 27

Nossa imagem social e comercial

Meu pai, marceneiro talentoso, me prometeu que fará os elementos de cena pra nosso espetáculo, e disse que isso é um incentivo de pai à minha carreira.

Começamos a calcular quantidades de MDF para colocar no projeto de patrocínio junto às madeireiras. Fiquei surpresa quando papai disse que o melhor seria fazer uma vaquinha com o pessoal da peça pra comprar o material. Bem melhor do que ficar mendigando pedacinhos de madeira!

Então é assim que somos vistos? Mendigos de retalhos e sobras. Mas e a contrapartida financeira, a exposição do nome e da marca, o marketing no saguão do teatro? Não deveria ser uma parceria, uma troca de interesses que ao final possibilitam o acontecimento teatral?

Que susto. Fiquei imaginando o que passa pela cabeça das pessoas com relação aos prêmios de fomento à cultura.

Eu e papai conversamos por mais de uma hora. Ele entendeu o funcionamento da parceria e do patrocínio e me deu uma folga. Só os sentimentos de inadequação e angústia ficaram martelando na minha mente.

sexta-feira, março 24

CULHÃO!

Cada dia que passa estou mais convencida:
SÓ FAZ TEATRO QUEM TEM CULHÃO!!!
É isso, só trabalha com teatro aquele que tem culhão suficiente pra aguentar o tranco!
É muita VIDA, é muito SONHO, é muito PEITO, é muita DOR, é muito AMOR e é muito SUOR, SUOR, SUOR e sem pudor de perder tudo pra atingir o máximo da doação, da fé.

É Missão sim, missão de estar e ficar! Missão de andar e parar! Missão de dizer e sentar raíz onde quer que seja, e seja assim mesmo, sem menores emoções, é tudo a flor da pele, é casca arrancada na ferida recente. Dói e Arde. É febre, alucinação de febre e magia de médico pra acalmar o fervor, ir devagar com o andor, e frear quando o muro se aproxima... Não bater no muro, não se acidentar a toa!

Tem que ter culhão! Coragem de transpor o muro, dar o mundo a tapa, dar a cara ao nada e a mente a tudo! Estudo no sentido mais belo da palavra, de mim a ti, de nós a vós! Ter voz e nunca calar... Dar voz a quem calou pra sempre!
É eletrochoque! Ressucitar mesmo quem fechou os olhos e endureceu. Empalideceu. Petrificou e não viu, prostrado, que os séculos passados, não estão no passado! Eu os trago a tona, eu entrego de bandeja pra quem quiser... Te damos esse presente nas mãos, pegue. Sinta esse pulsar de vida, sinta esse jorro quente da alma, arrisque perder a calma, o juízo, a razão. Isso é o que realmente te espera se você tiver estômago pra digerir nosso tempero.

Tem que manter a cabeça
Tem que usar a garganta
Tem que preparar o estômago
Tem que ter peito
Tem que ter pernas e fortes!
Tem que estar no coração
TEM QUE TER CULHÃO!
Alissandra Rocha - Diretora / Dramaturga

quinta-feira, março 23

Do ser e algumas definições

Da Literatura

Estive pensando muito sobre a literatura ultimamente, talvez tenha chegado a menos conclusões que antes e com certeza a menos conclusões que ela merece.Literatura palavrinha complicada, suave e ao mesmo tempo tão simples e com tanto peso.
O que é literatura?
Perguntinha sem vergonha nos colocada no primeiro ano da faculdade de Letras, não colocarei aqui uma definição de Terry Engleton ou de qualquer outro, não vem ao caso. Literatura é... literatura é...literetura é a...literatura é o que abrange tudo e todos os bem aventurados que se encantam e se entorpecem com as letrinhas embaralhadas num livro, num caderno, num monitor e outros lugares a magia colhida no campo leitura.Podemos também dizer que a literatura é tudo aquilo que o Aurelio escreveu, vejam se vocês lembram:
Literatura sf 1 Arte de compor trabalhos artísticos em prosa ou verso. 2 O conjunto de trabalhos literários dum país ou duma época.Lembraram? Tinha certeza que isso refrescaria a memória e esclarecia muita coisa a respeito do que é literatura.
Pois bem Literatura para Claudio Rosa, antes de qualquer coisa é: Uma via, um caminho, uma Terapia, um desejo, uma angústia, um namoro, como namoro é um trabalho, é uma briga, um flerte eterno, um amor platônico, é puramente amor, É tudo, é estudo, e como todo amor também é nada, é madrugada, é poesia, é vida. É sobretudo um Sonho!

Do Teatro

Estive vivendo teatro ultimamente, talvez mais tempo que eu imaginava e com certeza menos tempo que eu preciso.Teatro.
O que é teatro?
Um bando de alienados? Um bando de garotos que pensam que são artistas? Pessoas que não querem saber de trabalhar e viver com o bom e do melhor? Pessoas que baixam o santo e fazem um personagem ali na frente de todo mundo?
Não.
Teatro é paixão intensa e como toda paixão é perigosa, há tantos devaneios e deslizes no Meio!O teatro tem sim tudo isso. Como várias profissões possuem seus desafetos, a Medicina os tem, o Direito os tem, Brasilia os tem e lá tem muito mais!Teatro por Aurélio:Teatro sm 1 Edifício onde se apresentam obras dramáticas , óperas, etc. 2 A Arte de representar. 3 Coleção de obras dramáticas dum autor, época ou nação.
Pois bem teatro por Claudio Rosa é: Outra via. Outro caminho. Paixão, intensidade. Teatro é trabalho, trabalho muito árduo. Teatro são pessoas dedicadas, teatro é união. Teatro é raça! Teatro é estudo. É vida. É vivo!

Do Encontro. Poetizar e dramaturgar.

O Encontro acontece em mim.
SÃO CAMINHOS PARALELOS, SÃO DUAS PARTES DE UM CLAUDIO ROSA !
São organismos que preciso para viver. Para me tornar vivo a cada dia, no que chamo de vida. São coisas independentes que sustentam minha sobrevivência, sem uma ter ligação com a outra e ao mesmo tempo ter todas. Sendo que a principal sou Eu. Ah... como é dificil sustentar duas casas, é desvairadamente prazeroso e trabalhoso. Estruturalmente é pratico, não poetizo dramaturgando e não dramaturgo poetizando! Essa é a Lei.

Do Claudio

Quero escrever e neste caminho como na vida, Amo. Amarei e desamarei inúmeros amores e não posso apagar, simplesmente apagar. Me apaixono. Me apaixonarei e desapaixonarei. Porque sou vivo! E como vivo sou sujeito a interferências, a amores, a paixões, a Aprendizados e não os negarei. Os acolherei.

Do Fim do texto

O começo.

terça-feira, março 21

É o ator um inimigo de si mesmo?

Texto publicado por Johnny Kagyn no blog do SuperNova Coletivo de Dramaturgos.

Olhe para si e para o caminho que o trouxe até aqui. É um caminho longo, curto? Não importa a extensão o que lhe trouxe até aqui foram sonhos. Sonhos íntimos. Sonhos inconfessáveis. Sonhos. Olhe para si e veja apenas você mesmo. Seus olhos... ( continua )

Leiam, visitem o blog, e comentem aqui.
alissandrarocha@gmail.com

sábado, março 18

O trabalho coletivo no teatro e suas linhas imaginárias

Dramaturgo, diretor, cenógrafo, figurinista, iluminador, sonoplasta, maquiador, contra-regra, ator... Onde se inicia e onde termina a função de cada um?

Quantos e quantos dramaturgos não se queixam de mudanças conceituais impostas a suas peças por diretores? E quantos e quantos diretores não se queixam de atores que querem dirigir a peça? E para não ir muito longe, quantos e quantos atores não se queixam de dramaturgos que desejam atuar via texto e diretores que desejam atuar via direção?
Logicamente o profissional que conhece as técnicas de seu oficio profundamente não comete tal erro, mas em um país onde a formação de atores e diretores só acontece de verdade na prática, raras são as exceções, existe sim uma confusão muito presente entre os limites de cada função.

Recentemente assisti a uma série de peças sem direção. Sim, peças teatrais onde os atores é que tinham que “se virar”. Em uma das peças o diretor se distraiu com a iluminação, onde fez várias e várias peripécias, e esqueceu da peça. Em outra os atores estavam perdidos em algumas cenas e era patente que não houve o “direcionamento”.

Exageros a parte, acredito que um caminho possível é o de estabelecer um contrato assim:
Dramaturgo: Responsável pela idéia da peça.
Diretor: Responsável pela estética da peça, porém a estética não pode comprometer a idéia da peça. Caso o diretor não queira defender a idéia do dramaturgo em uma peça, ele que escolha uma peça cuja idéia concorda ou que escreva sua própria peça. Além disso, o diretor é também responsável por direcionar o ator e auxiliá-lo em suas deficiências.
Ator: Responsável por criar uma personagem, porém esta criação deve estar comprometida com a idéia do dramaturgo e com as concepções estéticas do diretor.
Profissionais técnicos: Responsáveis por suas áreas específicas (cenografia, iluminação, sonoplastia e etc.), e também comprometidos com a idéia do dramaturgo e a concepção estética do diretor.

Sabemos que as coisas não são tão simples assim, pois numa peça onde o diretor não dirige, numa peça o dramaturgo não fez dramaturgia e no contexto onde o ator não atua, realmente cruzar a linha imaginária é não só um ato compreensível como também necessário.

Johnny Kagyn é dramaturgo.

quinta-feira, março 16

AÇÃO DIRETA

Constantin Stanislavski

O que vou expor agora são umas poucas conclusões tiradas das aulas de direção teatral, ministradas pelo dramaturgo/diretor Chico de Assis, onde ele expôs o método da ação direta. Logo de inicio foi deixado claro que a ação direta é um método quase desconhecido no Brasil, país onde os atores e diretores têm uma formação stanislavskiana de primeira fase (palavras de Chico de Assis). O método da ação direta é a segunda fase do método stanislavskiano e foi implantado principalmente nos EUA na escola de teatro “Actors Studio”. No EUA o método da ação direta foi implantado por Stella Adler, Elia Kazan e outras pessoas ligadas aos primórdios do “Actors Studio”, e tornou-se praticamente um patrimônio da escola.

A primeira fase do método
A principal diferença entre a primeira e a segunda fase do “método” é que na primeira fase os laboratórios de criação do ator acontecem fora da estrutura proposta da peça, ou seja, é a criação de uma gênese onde se criam fatos na infância, juventude e etc. criando-se assim uma personagem com motivações exteriores à peça em si.
Essa busca fora da estrutura da peça é sempre lenta e não servia aos interesses do cinema americano, visto que os produtores não podiam ficar meses ensaiando até o ator construir sua personagem. E muitas vezes não servia aos interesses da própria peça ou filme, visto que o ator muitas vezes criava uma personagem com motivações que nada tinham a ver com a estrutura proposta. Sem falar nos atores lentos, atores que para toda e qualquer ação procuravam uma justificativa subjetiva, o famoso “subtexto”, tornando assim cada fala uma aventura subjetiva que muitas vezes objetivamente fugia dos interesses da cena.
A segunda fase do método
Ação direta vem para solucionar estes problemas. A ação direta é também um método de laboratório, porém é mais dinâmica e só busca as soluções para criação da personagem na própria estrutura da peça.
Funciona assim: Toda personagem dramaturgica tem uma crise, que é o momento onde se revela por completo. Neste momento da peça onde a personagem está completa em cena é que o ator deve fazer seus laboratórios e extrair as soluções para as demais cenas. Apartir do momento em que o ator consegue captar e solucionar sua personagem na crise da mesma, ele passa a trabalhar as outras cenas de forma direta. Apartir das ações propostas em cada cena, e do seu conhecimento adquirido através do laboratório da crise, o ator pode agir em diversas camadas e direções com sua personagem e de forma mais eficaz e rápida. Ele não precisa mais se apoiar em subtexto ou construção de gênese, pois todos os elementos que precisa para agir estão na própria cena e todos os elementos para a construção da personagem estão na crise (momento onde a personagem se mostra por completo).
Identificação da crise da personagem
Se a personagem for protagonista ou antagonista a crise da mesma será a crise da peça (última cena). Se for uma personagem coadjuvante a crise não esta necessariamente na crise da peça, porém existe em algum momento da peça. Para esta identificação é necessária uma análise da estrutura da peça e da função daquela personagem nesta estrutura.
Conclusão
A ação direta é essencialmente um método do ator. Ele pode trabalhar com este método independente do conhecimento do diretor. Porém, é claro que o conhecimento e direcionamento do diretor são coisas desejáveis. Ao contrário do que se possa pensar, este não é um método frio, que não leva em consideração as emoções. Só que ao contrário da primeira fase onde o ator buscava as justificativas para emoções e ações fora da estrutura da peça, na ação direta ele busca suas bases e justificativas na própria peça. Muitos dos preceitos técnicos da primeira fase do método são mantidos na chamada segunda fase, pois o ator precisa também de grande preparo técnico de seu aparelho e de grande disponibilidade criativa. Tentei ser o mais claro possível, porém deixo claro que sou ainda um aluno de tal método e que a dificuldade para encontrar material teórico em português tratando de tal método é enorme. Tudo o que aprendi foi nas aulas de direção, onde a ação direta foi exposta em sua prática e o resultado realmente me encantou. Segundo o mestre Chico de Assis, conseguimos comprovar a eficiência deste método em todos os atores formados pelo Actors Studio. Para ilustrar aqui vão três grandes nomes que utilizam magistralmente tal método: Sean Pean; Julianne Moore e Al Pacino (que inclusive é um dos donos do Actors Studio).


Johnny Kagyn é dramaturgo e integrante do SuperNova Coletivo de Dramaturgos.
Blog: http://infinitoparticular.blogspot.com/
E-mail: kagyn@msn.com

terça-feira, março 14

Adaptando-se: o cinema aprendendo com o teatro

Por Ricardo Avarih
avarih@ig.com.br

Algumas das que são consideradas as maiores obras de arte da humanidade são peças ou nasceram como. O teatro já lida com adaptações de idéias desde sempre, e se há muitos Peter Pan, Romeu e Julieta, Édipo Rei, Il Pagliacci, O anel dos Nibelungos e tal, é por que o texto cênico nasceu pra isso.
Mas o último citado é o culpado de muito do que conhecemos. Wagner, afora as diversas falhas de personalidade, era um crânio no jogo de fazer enorme o que era texto. Em “O anel dos Nibelungos”, ele pegou elementos da mitologia odinista germânica e fez aquilo que pode ser considerada a primeira adaptação Blockbuster de alguma coisa: grandiosidade, simplificação e planificação dos elementos originais, desvio para o modo de pensar recorrente á época (no que se refere às personagens, ele ignora os traços dos deuses e os tornou versões dos deuses clássicos da moda, afinal, classicismo era chique. Odin tem a personalidade de Zeus, Frigga a de Hera, e por aí vai. Até mesmo Sigfried virou um herói à grega, com direito a falha trágica e tudo).
O cinema nasceu quando a fórmula Wagneriana estava estabelecida no fim do século XIX. Podemos encontrar suas idéias na adaptação de “Drácula” que conhecemos como “Nosferatu”. Portanto, nada mais natural que o cinema nascesse com tal vocação. Isso firmou-se mesmo após as idéias de Mélies originarem o efeito especial e a sonorização começar a criar a linguagem específica do cinema.
No fim dos anos setenta, George Lucas e Steven Spielberg, com as bênçãos de Coppola, criaram o cinema de multidões, e a partir daí tornou-se impossível pensar em filmes sem milhares de dólares, público absurdo e segurança financeira. A quantidade de estúdios vendidos e falidos nos anos oitenta prova isto. Apesar de instruídos e talentosos artesãos, criaram um modo de filmar que foi imitado sem escrúpulos e competência. Nem todo mundo assistiu aos filmes de Akira Kurosawa e as adaptações que ele fez da literatura do sol nascente, nem entendeu o que toca no primeiro blockbuster da história, “O poderoso chefão”. E com isso nasceu o germe da crise de criatividade do cinemão atual, e praticamente todo arrasa-quarteirão de hoje em dia é fruto desta crise ( = necessidade de segurança financeira).
Em comum, toda adaptação busca condensar a sua fonte original destacando seus elementos mais simbólicos. Isso pode acrescentar chances inesperadas de melhora no original e a riscos que valem a pena. “King Kong” fica em uma posição estranha. É uma homenagem, feita por admirador confesso. Apenas o fato de Jackson nos ter poupado de recursos baratos para extrair lágrimas, o faz o diretor mais original a lidar com cifras tão grandes. E finalmente temos um macaco. As pessoas tem Discovery Channel hoje, e sabem quem foi Dian Fossey (lembram da Sigourney Weaver na cinebiografia?). Agora, Kong não tem uma loira apaixonante, mas sim um brinquedo, e Jackson usa o elemento novo da artista de “Vaudeville”, em homenagem ao teatro de então, para justificar que Kong não a torne apenas mais um petisco, numa sacada de respeito ao caráter dos grandes macacos.
Tenho que citar outra sacada: quando um personagem fala, aterrorizado, que o livro que está lendo (“O coração das trevas”, que foi adaptado como o obrigatório “Apocalypse now!” do Coppola criando algumas das regras atuais das adaptações) não é uma história de ação, e confirmam-lhe isso, estamos quase que falando do filme que assistimos. É transparência, como quando o diretor dentro do filme manda um ator no meio dos dinossauros para criticar os diretores, mas que casa bem para uma platéia acostumada à burrice.
Quando se trata de adaptar seriados, décadas de existência de um personagem ou livros extensos, as estórias em geral desrespeitam a cronologia, complexidade e a seqüência dos fatos em prol de um conto coeso para diletantes. Funciona em alguns casos, mas falha horrivelmente na maioria.
Vamos ao plano geral: pegamos aquilo que as pesquisas dizem ser lembrado pela maioria, enfiamos num filme com ar moderno, com atores sérios e sem roupas ridículas, eliminamos preconceitos ou incômodos de época até a exaustão estéril, fazemos a história com muito sal, misturando elementos mais do que torta de pós-natal e, claro, podadas as coisas cósmicas ou mirabolantes (ou você acha que dava para tornar crível que a Fênix de “X-men” nascesse pilotando um ônibus espacial em uma tempestade cósmica no cinema?). Isso é inevitável, visto a complexidade que estes possuem. De qualquer jeito, a transposição fidelíssima não adianta. A falta de cinema em “Sin City” incomoda.
A crise criativa de Hollywood não é limitada pelo gosto do público. É alimentada, mas não justificada, pelo saudosismo. Falta incerteza, tempero, olhar, curiosidade, ousadia, tirar um pouco de dinheiro dos diretores, falta sangue e calor ao invés de fornecimento de tecnotrecos. Sem isso, para cada “Senhor dos Anéis” ou “Os Outros” teremos dez “Nárnias”, “massacres da serra elétrica” ou “fantásticas fábricas de chocolate”. Isso enquanto não resolvem refilmar “Jeannie” ou “Os pássaros”.
Quer saber? Assistamos essas mediocridades pela internet para ter assunto e gastemos nosso dinheiro indo ao cinema quando realmente vale a pena, assistindo “O Jardineiro Fiel” e “A Noiva-cadáver”. Ou “O exorcismo de Emily Rose”, adaptado do livro que inspirou o roteiro de “O exorcista” e que desmistifica adaptações ao deixar-nos na mais medonha dúvida.
E jamais nos esqueçamos que a mesma crise bate á porta do teatro faz muito mais tempo. E que se há algo a NÃO aprender com o cinema, é os erros que o levaram a tal.

segunda-feira, março 13

Chaves

Há chaves lógicas em tudo a nossa volta. Como nas moléculas de DNA, são apenas seis substâncias chamadas genericamente de aminas, que combinadas duas a duas, formam uma corrente com informação para o funcionamento de todo o ser vivo. Pensando no nosso corpo. Se faltarem algumas dessas aminas importantíssimas, vitais, as vitaminas, o corpo sofre e adoece. Não funciona corretamente.
Faltaram as chaves da vida.


Existe uma inteligência orgânica presente também na literatura, nas artes e, como é meu caso, na dramaturgia. O texto teatral existe para a cena. Não se encerra nas palavras. Aí é que entra um trabalho para o ator, que vai muito além da cena e a precede. O estudo e compreensão do objetivo da peça, seu tema, o conflito central e os estranhamentos paralelos que o compõem. Mas existe aquela chave. A lógica, às vezes óbvia, mas nem sempre, que dá sentido e amarra todo o enredo dentro de uma unidade harmoniosa.

Estou às voltas com uma questão.
A busca dessa chave dentro do texto teatral pode ser enriquecedora e trazer resultados surpreendentes. Mas se a tal senha existe, porque ela não é revelada pelo próprio autor?

Conquistar o entendimento pleno do texto dramaturgico, através do processo de ensaio tem afinal mais valor no resultado estético do que teria se fosse instruído diretamente pelo autor?

Acho que adivinho a resposta de vários amigos. Parece óbvio... O processo, a descoberta, a conquista...

Mas preciso aprofundar o questionamento. Enquanto isso me estico, pulo e subo em pedras, pra alcançar a minha chave, que eu sei que existe, pendurada ali no alto, fora do alcance das minhas mãos.

quinta-feira, março 9

Laboratório da Chegada-Preparação para a entrega.

O Laboratório da Chegada é meu velho conhecido. Pratiquei-o durante 2 anos na Faculdade e depois me dispersei, nunca mais. Parece que não faz sentido praticá-lo se não estamos inseridos num processo de pesquisa, o que é totalmente inverdade.
Tive meu primeiro contato com essa prática com um mestre, o mesmo do "me faça uma pergunta depois do ensaio!", professor Antônio Januzeli (Janô), na Universidade de São Paulo.
Este laboratório consiste na conscientização do ator no trabalho que irá executar. Como preparar seu corpo para começar uma prática de entrega? Como o ator se torna disponível? É como se fossemos dar um presente a alguém e preparamos o embrulho, o cartão, os dizeres pessoais, aí sim damos o presente! Então como agregar valores ao trabalho do ator?
Essa é uma saída: perceber o chegar. Se ambientar com a sala de ensaio, o cheiro, os sons do local, a temperatura e se adequar a tudo isso sem que o ambiente o agrida ou oprima. Tomar consciencia de que a hora de trocar a roupa do dia pela roupa do ensaio é uma preparação fundamental para as próximas horas; botar os pés no chão e sentir o frio do piso, esticar os dedos dos pés, entrar em contato com o ambiente, também prepara para a vivência, e o mais importante de tudo isso: Contato com os colegas de trabalho. Contar BREVEMENTE como foi seu caminho até o ensaio, se algo de bom ou ruim aconteceu. Se tocarem, sorrir, ajudar um ao outro a abotoar a blusa, ou amarrar o cabelo. A doação começa daí! Um beijo ou um abraço de boas vindas para aquele que chegou indevidamente atrasado... Tudo isso integra e prepara terreno para a entrega. Mas que seja breve, sem comodismos e principalmente, sem flacidez! Nada de bunda no chão, ou mãos na parede. Nada de dispersar energia falando mal de alguém ou algo, fofocando sobre amenidades... não poluindo a cabeça com qualquer pensamento que seja dispersivo. É deixar o pensamento chegar e passar, como nuvens num dia ensolarado. Deixa vir, refresque-se na sombra, mas deixe passar.
Normalmente o laboratório de chegada não deve ultrapassar 20 minutos porque depois disso, o corpo acostuma à inércia, então a transição para o aquecimento corporal e vocal deve ser feito imediatamente.
Tenho certeza que isso todos nós fazemos em nossos processos tanto como atores como orientadores de práticas, mas o importante é ter consciência da necessidade de fazê-lo.
Agora mequestiono: Apenas os atores deveriam ter tanto zelo na preparação para mais um dia de trabalho?
alissandrarocha@gmail.com

Mais informações sobre o conceito de Laboratório:
A Aprendizagem do Ator
Antônio Januzelli
Editora Ática - Série Princípios

sexta-feira, março 3

A Classe Teatral e o Corporativismo

A última peça que assisti me fez pensar bastante sobre o corporativismo no teatro. É certo que corporativismo existe em qualquer classe, mas especificamente no teatro não seria o corporativismo uma das raízes de muitos males?

Eu explico. Quando nos furtamos ao direito da crítica e até de negar o aplauso não estamos alimentando a mediocridade, a falta de qualidade, e até mesmo a falta de público? Não seria mais honesto para com o artista a crítica dura e verdadeira em detrimento do afago corporativista?

Acredito que deve existir certa parcela de coragem e responsabilidade para quem se propõe a colocar um produto cultural (uma peça teatral é um produto cultural, visto que o público paga para assisti-la) no mercado. E acredito também que a crítica honesta a montagens medíocres é um dos caminhos para evolução técnica dos profissionais envolvidos na labuta teatral.

A caridade corporativista nos faz esquecer que é a nossa profissão, a nossa paixão, a nossa arte e a viabilidade comercial da mesma que está em jogo. Existem cada vez menos profissionais realmente qualificados e com o nível de exigência da classe nivelado por baixo (os subsolos do nivelamento), só resta ao público se refugiar nas comédias populares de resultado previsível e evitar as peças dramáticas ou qualquer outro gênero que ofereça risco ao seu investimento. Machuca no bolso e no gosto pelas artes cênicas sair do teatro após gastar 10, 15, 20 reais, e constatar que aquele dinheiro foi perdido, que o tempo foi perdido, e que voltar ao teatro será novamente uma aventura amarga.

É importante lembrar que uma peça ruim, dependendo do tempo que fique em cartaz, pode significar que algumas poucas centenas de pessoas que foram ao teatro pela primeira vez nunca mais voltarão.

Portanto, nada de tapar o sol com a peneira. Sejamos nós mesmos sinceros e exigentes com o nosso trabalho e com o trabalho dos colegas da profissão. Nada de meias verdades, de eufemismos... Deixemos o corporativismo para os advogados, para os deputados e para todas as outras “nobres” classes de profissionais que podem se dar a este luxo. Nós não.

quinta-feira, março 2

Senso de direção!

Estou impressionada com esse fenômeno. Diretor não dirige mais. Sempre veremos os velhos ícones do teatro e diremos: "Não se faz mais diretor como antigamente!" Quer dizer agora que veremos a mão do diretor apenas na iluminação barata, tipo "olha que genial!!!! ele fez uma borboleta com o holofote, uuuuauuu, olha, tá igualzinho a capela lá da minha rua..."? Ou será que veremos a presença dele apenas nos mirabolantes praticáveis, sem razão de estarem ali, ou com sobes e desces de escadas perigosíssima para o ator? Ahhh o ator nessa nem entra... Nos tempos do "do-it-yourself" o ator se vira... ele fez curso de teatro pra que?...

Será que iremos falhar quando nossa hora chegar? Será que o sentido da palavra "direção" se perdeu na história e no lugar foi posto algo mil vezes pior do que o "ego", que as vezes dá resultados belíssimos por sinal?
O que faz um diretor? Acho que se o Dramaturgo Kagyn tem suas dúvidas sobre o que é ser um dramaturgo, as funções sociais deste e porque sê-lo, a Diretora Rocha tem um balde de questões sobre o ato de dirigir. Tenho muito a pensar!
alissandrarocha@gmail.com

Num Bosque (Já começou mal pelo título)

Tentei achar um ponto positivo nesta montagem, e sinceramente não encontrei. O diretor Francisco de Assis adapta o texto de Ryonosuke Akutagawa (utilizado também no filme Rashomon, de Kurosawa) e monta com a sua “Cia. Círculo da Miragem” uma peça sem méritos. A direção é um horror (se é que existiu direção), os atores são todos ruins (não se salva um sequer, mas a culpa disto também é da direção), a iluminação é mal utilizada (criatividade despropositada e utilização de clichês), não existe cenário (o que não seria defeito se a iluminação não fosse tão cheia de vontades), e para findar, a peça consegue tornar um bom texto e uma boa estrutura dramática em algo ridículo que esbarra na comicidade da mediocridade.

O mais triste é constatar que “Num Bosque” não é um caso isolado, mas sim mais uma das porcarias em cartaz. Diretor que não dirige, atores mal preparados, e textos que quando bons são prejudicados pelo conjunto (apesar de também a dramaturgia ser no geral muito fraca na maioria das montagens). Arrisco-me a dizer que 70% das produções em cartaz são porcarias da pior espécie e que 30% é água no deserto. Hoje eu voltei para o meu apartamento com sede.

Fomos ao Teatro e... O Teatro não estava lá!

Bem, fomos todos assistir a peça "NUM BOSQUE" no CCSP, texto de Ryonosuke Akutagawa com direção de Francisco de Assis ( não confundam com Chico de Assis ).
Como eu disse, nós fomos mas o Teatro não compareceu. Não houve teatro! Sim, os atores compareceram, mas não trabalharam. O diretor, acredito eu estava lá, mas sua preocupação estava voltada para as pirotecnias de principiante da iluminação. O que sobra? A DRAMATURGIA? E aí, ela pelo menos deu o ar da graça. Mas você sabe, se um não quer dois não brigam. Neste caso, ninguém, atores e diretor, deu o devido respeito a jóia preciosa que é esse texto. Então nada funcionou.

Há também que se ter um cuidado especial quando se diz respeito a textos orientais, não que estrutura seja diferente, haja vista os episódios de SONHOS de Akira Kurosawa, o melodrama existe e é de fácil identificação. Mas existe algo de sutil, denso que está entre as palavras. Para os orientais um bosque, não é apenas um emaranhado de cedros e folhagem espalhadas no chão. Um bosque, e esse bosque em específico é o mistério, o segredo, a mística, o frio, o medo da morte e o fim de uma paixão ardente. E o que vimos foi... bem... um lenhador afônico, uma mulher ( estuprada ) risível, um policial saído dos filmes de Chaplin, uma freira que como manipuladora de animais é divina, um amante patético e um assassino James Dean... e o BOSQUE, não passou de efeitos de luz, novamente de principiante, e sons, feitos com a boca dos atores que estavam cena.

Numa peça onde a chave do mistério é algo que nunca poderá falar, saímos nós, sem fala, sem palmas e com muito o que pensar sobre nossos erros e acertos daqui pra frente.

quarta-feira, março 1

Num bosque - Fui ver

Ontem fui passear!

Escolhi o figurino, tomei um banho, me vesti, recomendei ao filhote que fosse um bom menino pra tia Claudia (minha irmã) e saí correndo pra pegar o ônibus.

Cheguei, entrei na fila, acenei pros amigos que chegaram antes e continuei a leitura (não saio de casa, pra pegar uma fila, sem levar um livro comigo...) Esperei. Paguei meus R$ 1,50 e finalmente pude cumprimentar os amigos e o amigo novo que conheci lá, o Rodrigo. Falamos sobre teatro, e pra variar o tema, sobre livros. Novas leituras dos livros velhos. A Lili com Peter Brook. Alguém disse que "pra ser mulher tem que ter culhão". E também conversamos sobre orkut, seus pecados e valores e Blogs, comentários e a vida pra levar.

Entramos na sala de espetáculo.
Saímos da sala de espetáculo.

Rimos, muito. Choramos também. Filosofamos e limpamos o veneninho do canto da boca.
Dividimos os destinos. Quem vai de Metrô, quem vai de carona... Beijos e abraços.

Meu passeio foi ótimo!

Ah! Esqueci de dizer... Era uma peça. Pena que não teve.
Teatro? Eu não vi...

Quis ter ido ao Teatro

Senhor Ç acordou cedinho como sempre, estava eufórico.
Colocou seu chinelinho de pano.
Preparou um suco, o café, bitucou o cigarro e saiu.
Pegou seu dinheirinho contado e foi a casa de W, o pegou pelo braço, lhe comprou doce, entrou no ônibus.
- Chegou! Gritou exaltado.
- Está vendo aquela fila? Pois bem é ali que compramos os ingressos a preço popular!
Compraram os ingressos.
- Aqui ficamos na fila e esperamos para entrar.
Entraram, ficaram e saíram.
Saíram e saíram.
Senhor Ç nunca mais voltou ao teatro.
O W disse que queria ser ator, nunca chegou a se tornar um. Pois tinha como base a porcaria de teatro que lhe apresentaram.


Cheguei agora pouco do TEATRO, digo do CCSP, quis ter ido ao teatro.
Não fui.
Sentei-me e vi uma sessão de improviso na minha frente, mal improvisada.
Atores largados. Será que eles tiveram uma experiência ruim com o teatro?
Diretor. Diretor?
Discordo do Kagyn e da Rocha com relaçao ao texto, não achei nada grandioso, não sei o que tentaram fazer com a adaptação.
Sei das qualidades dos textos orientais e não vi isso lá.
Total demérito desta montagem.
Sim, estou radical em minha crítica, em demasia?
Não.
Pode ser que os atores estava em um mal dia, podem me falar isso. Mas bota mal nisso!
Me recuso a aceitar o convite deles em retornar.
Infelizmente não recomendo.
Voltarei ao teatro por ter necessidade e agora quem não tem esta necessidade vai voltar? E o que é pior sai de sua poltrona achando que o teatro é o que viram e não é.
Volto a dizer quis ter ido ao teatro.
Ah a peça é “Num bosque” Cia Círculo da Miragem e direção ( olha ele aqui) Francisco de Assis, o texto é de Ryonosuke Akutagawa.

Claudio Rosa


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