Chaves
Há chaves lógicas em tudo a nossa volta. Como nas moléculas de DNA, são apenas seis substâncias chamadas genericamente de aminas, que combinadas duas a duas, formam uma corrente com informação para o funcionamento de todo o ser vivo. Pensando no nosso corpo. Se faltarem algumas dessas aminas importantíssimas, vitais, as vitaminas, o corpo sofre e adoece. Não funciona corretamente.
Faltaram as chaves da vida.
Existe uma inteligência orgânica presente também na literatura, nas artes e, como é meu caso, na dramaturgia. O texto teatral existe para a cena. Não se encerra nas palavras. Aí é que entra um trabalho para o ator, que vai muito além da cena e a precede. O estudo e compreensão do objetivo da peça, seu tema, o conflito central e os estranhamentos paralelos que o compõem. Mas existe aquela chave. A lógica, às vezes óbvia, mas nem sempre, que dá sentido e amarra todo o enredo dentro de uma unidade harmoniosa.
Estou às voltas com uma questão.
A busca dessa chave dentro do texto teatral pode ser enriquecedora e trazer resultados surpreendentes. Mas se a tal senha existe, porque ela não é revelada pelo próprio autor?
Conquistar o entendimento pleno do texto dramaturgico, através do processo de ensaio tem afinal mais valor no resultado estético do que teria se fosse instruído diretamente pelo autor?
Acho que adivinho a resposta de vários amigos. Parece óbvio... O processo, a descoberta, a conquista...
Mas preciso aprofundar o questionamento. Enquanto isso me estico, pulo e subo em pedras, pra alcançar a minha chave, que eu sei que existe, pendurada ali no alto, fora do alcance das minhas mãos.
3 Comments:
Marcia: Que texto... olha só... estou pensando muito no que vc escreveu e te prometo uma resposta a altura. Vou entrar pra dar aula agora, por isso não quero apressar meus pensamentos e escrever qualquer coisa... então me aguarde!
Bem, como já conversamos um bocadinho no ensaio, vou expor aqui o resultado de aguns pensamentos:
Não há chave! Ou melhor, não há nenhuma porta trancada no texto dramaturgico. Está tudo lá, bem estruturado e encadeado. As vezes é difícil saber por onde começar a procurar a estrutura, mas aqui vai um dica: A CRISE! Procure sempre no texto a crise, o momento que a idéia central se revela, normalmente na última cena, com uma mudança do protagonista. Então você pode começar a puxar o fio do novelo e seu trabalho de construção de personagem fica bem mais claro.
Vc viu... não usei metáforas... fui direto ao ponto!
Sim diretora, foi direto ao ponto.
Mas faz de conta que estamos falando de um texto do dramaturgo Claudio Rosa, que é todo encadeado (isso eu vi) e tem tudo ali (também percebi isso), mas que não segue a regra da última cena. Só fazendo de conta... O protagonista muda sim, radicalmente, mas me deixa totalmente no escuro.
Só faz de conta que eu consigo aprender a ação direta da maneira mais heterodoxa que poderia imaginar...
Aí me diz se não falta alguma chave, ou senha, ou palavra mágica pra isso tudo entrar no meu corpo de vez?
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