quarta-feira, julho 5

Se vença


Cheguei, perguntei onde era a sala, e fui para lá, dei de cara com a instrutora do workshop, a mesma que havia realizado o espetáculo que vira na noite anterior, ainda faltavam vinte minutos para o inicio do workshop, após o cumprimento tímido de ambas as partes quedei me na porta da sala aguardando.
Passados alguns minutos ela retornou e entrou na sala, ainda não era a hora de entrar e de repente era, então entrei junto com as poucas pessoas que lá estavam comigo, pois bem logo que entrei vi a moça se aquecendo e os que entraram comigo começando a tirar os sapatos, alguns tiraram as meias também. Fiquei quieto, sentei em posição de meditação, não sabia se tirava o sapato ou se me tirava de lá. Olhei mais algumas vezes para os lados e todos já estavam descalçados e com roupas mais leves e se aquecendo, resolvi mudar de posição, estiquei a perna como que me aquecia ( ainda sem tirar os sapatos), me senti um pouco melhor, estiquei a outra e assim comecei a me sentir mais a vontade, percebi que estava incomodando com os sapatos, não sei era eu que me incomodava ou se incomodava os outros, de qualquer forma saquei os meus sapatos.
Disse que não estava acostumado a trabalhar o corpo, o meu corpo.
Me estenderam os olhares, depois a mão.
Passamos de repente a nos aquecer em dupla, era tudo novo descoberta em cada movimento de músculos, respeito mútuo, me integrei, me entreguei, me esforcei mais.
Trabalhamos juntos.Pediram-me o limite, doei o que não tinha, fui parabenizado pelo meu esforço e pelo olhar de quem trabalhou comigo.
O meu corpo já doia quando terminei os exercícios, respirava ofegante de cansaço e alegria.
Não entendi tudo, porque era para entender um centésimo de milésimo apenas, do que é o Butoh http://www.butoh.com.br/taxon/dancabutoh.html , mas este centésimo entendi que precisa de dedicação, respeito para conseguir trabalhar com esta expressão de arte.
Consegui fazer isso como dramaturgo, deixei a emoção e a curiosidade vencer – me para ir um passo adiante em meu trabalho, todo conhecimento é válido. E mais um caminho se abriu, em meio a muitos que foram abertos e eu ainda nem sei depois disto.

1 Comments:

At 4:05 AM, Blogger Márcia Nestardo said...

Lindo dramaturgo!
Vencer a dúvida, a timidez, o medo de errar e expor-se aos limites. Convencionalmente um trabalho presente na vida do ator. Falando por mim, não sou das melhores em correr esses riscos. Busco sempre alguma similaridade com meu repertório parco, onde me sinta confortável e segura. Sei que é um erro, mas quando o venço, me gosto mais, me sinto mais viva, quase uma artista!
Tua atitude humilde de entrega, disponibilidade pra mergulhar num universo denso, como o do teatro Butoh, e ainda a generosidade de dividir esse momento quem precisa da tua voz, gritaram forte dentro de mim...
Tuas pernas doloridas e pés descalços lançaram luz às mesquinharias do meu cotidiano.
Espera-me, eu chego logo, pra retribuir com a alma, me doando ao teu texto, forjando a mesma coragem de me entregar.

 

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