quinta-feira, março 16

AÇÃO DIRETA

Constantin Stanislavski

O que vou expor agora são umas poucas conclusões tiradas das aulas de direção teatral, ministradas pelo dramaturgo/diretor Chico de Assis, onde ele expôs o método da ação direta. Logo de inicio foi deixado claro que a ação direta é um método quase desconhecido no Brasil, país onde os atores e diretores têm uma formação stanislavskiana de primeira fase (palavras de Chico de Assis). O método da ação direta é a segunda fase do método stanislavskiano e foi implantado principalmente nos EUA na escola de teatro “Actors Studio”. No EUA o método da ação direta foi implantado por Stella Adler, Elia Kazan e outras pessoas ligadas aos primórdios do “Actors Studio”, e tornou-se praticamente um patrimônio da escola.

A primeira fase do método
A principal diferença entre a primeira e a segunda fase do “método” é que na primeira fase os laboratórios de criação do ator acontecem fora da estrutura proposta da peça, ou seja, é a criação de uma gênese onde se criam fatos na infância, juventude e etc. criando-se assim uma personagem com motivações exteriores à peça em si.
Essa busca fora da estrutura da peça é sempre lenta e não servia aos interesses do cinema americano, visto que os produtores não podiam ficar meses ensaiando até o ator construir sua personagem. E muitas vezes não servia aos interesses da própria peça ou filme, visto que o ator muitas vezes criava uma personagem com motivações que nada tinham a ver com a estrutura proposta. Sem falar nos atores lentos, atores que para toda e qualquer ação procuravam uma justificativa subjetiva, o famoso “subtexto”, tornando assim cada fala uma aventura subjetiva que muitas vezes objetivamente fugia dos interesses da cena.
A segunda fase do método
Ação direta vem para solucionar estes problemas. A ação direta é também um método de laboratório, porém é mais dinâmica e só busca as soluções para criação da personagem na própria estrutura da peça.
Funciona assim: Toda personagem dramaturgica tem uma crise, que é o momento onde se revela por completo. Neste momento da peça onde a personagem está completa em cena é que o ator deve fazer seus laboratórios e extrair as soluções para as demais cenas. Apartir do momento em que o ator consegue captar e solucionar sua personagem na crise da mesma, ele passa a trabalhar as outras cenas de forma direta. Apartir das ações propostas em cada cena, e do seu conhecimento adquirido através do laboratório da crise, o ator pode agir em diversas camadas e direções com sua personagem e de forma mais eficaz e rápida. Ele não precisa mais se apoiar em subtexto ou construção de gênese, pois todos os elementos que precisa para agir estão na própria cena e todos os elementos para a construção da personagem estão na crise (momento onde a personagem se mostra por completo).
Identificação da crise da personagem
Se a personagem for protagonista ou antagonista a crise da mesma será a crise da peça (última cena). Se for uma personagem coadjuvante a crise não esta necessariamente na crise da peça, porém existe em algum momento da peça. Para esta identificação é necessária uma análise da estrutura da peça e da função daquela personagem nesta estrutura.
Conclusão
A ação direta é essencialmente um método do ator. Ele pode trabalhar com este método independente do conhecimento do diretor. Porém, é claro que o conhecimento e direcionamento do diretor são coisas desejáveis. Ao contrário do que se possa pensar, este não é um método frio, que não leva em consideração as emoções. Só que ao contrário da primeira fase onde o ator buscava as justificativas para emoções e ações fora da estrutura da peça, na ação direta ele busca suas bases e justificativas na própria peça. Muitos dos preceitos técnicos da primeira fase do método são mantidos na chamada segunda fase, pois o ator precisa também de grande preparo técnico de seu aparelho e de grande disponibilidade criativa. Tentei ser o mais claro possível, porém deixo claro que sou ainda um aluno de tal método e que a dificuldade para encontrar material teórico em português tratando de tal método é enorme. Tudo o que aprendi foi nas aulas de direção, onde a ação direta foi exposta em sua prática e o resultado realmente me encantou. Segundo o mestre Chico de Assis, conseguimos comprovar a eficiência deste método em todos os atores formados pelo Actors Studio. Para ilustrar aqui vão três grandes nomes que utilizam magistralmente tal método: Sean Pean; Julianne Moore e Al Pacino (que inclusive é um dos donos do Actors Studio).


Johnny Kagyn é dramaturgo e integrante do SuperNova Coletivo de Dramaturgos.
Blog: http://infinitoparticular.blogspot.com/
E-mail: kagyn@msn.com

2 Comments:

At 3:17 PM, Blogger Alissandra Rocha said...

Johnny, isso só vem reforçar a tese de que o ator não pode se basear na "emoção" para representar um personagem. A emoção nos trai no palco. Não é material controlavel.
Uma das minhas grandes questões quando montei "O Balcão" era: Como obter o mesmo nível de emoção apresentação após apresentação? Como conseguir chegar na loucura explosiva da personagem Irma, sem cristalisar numa forma vazia?
Resposta: AÇÃO DIRETA! Entendendo e analisando a crise, conseguiria estruturar o momento da explosão, da ruptura do aparente, trasendo a tona a verdade da personagem. Sem precisar buscar nenhum motivação externa todo dia, o que poderia ser bem desgastante e me deixaria insegura se não achasse tal motivação.

 
At 10:34 PM, Blogger Márcia Nestardo said...

Vocês estão me enlouquecendo!!!!!
Cheguei exausta em casa, precisando dormir, e fiquei até duas da manhã buscando no texto do Senhor Dramaturgo, o Louco, uma justificativa pro meu entendimento etílico e nicotínico do que é a crise da minha personagem.
Na teoria é fácil, porra!!!!!

Vocês são malucos de pedra.

Segurem minha mão, me empanturrem de técnica e não me deixem escapar nos atalhos da mediocridade.

 

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