sábado, outubro 9

Terraplanagem

Depois de terremotos e demolições é hora de voltar ao terreno e erguer uma nova planta.
Arquiteta-se uma construção reforçada, capaz de suportar os “danos naturais” aos quais estão sujeitos os edifícios construídos nesta região, mas que ao mesmo tempo não seja blindada e possa interagir, talvez até mesmo reagir, aos estímulos das intempéries “ambientais”.  Porém, antes de tudo, é preciso limpar o terreno e terraplaná-lo, pois não podemos erguer um empreendimento seguro sobre os destroços de um empreendimento que ruiu. É hora da autocrítica.

O ator é antes de tudo uma pessoa dotada de complexidade psicológica e, portanto, não pode ser visto apenas como executor de idéias teatrais. É necessário entendê-lo, conhecer seus medos e desejos, para desta forma melhor orientá-lo para sua função teatral. O ator deve ser estimulado a pensar a expressão de sua arte. O ator não pode ser apenas replicador de padrões pré-programados, um autômato, pois desta forma a tendência é que seu trabalho entre em uma espiral entrópica. Portanto faz-se fundamental que o ator saiba o porquê está lá, em cada ensaio, em cada apresentação.
Cabe ao diretor coordenar os “porquês” de cada ator e colocá-los a serviço do “porquê” da encenação. O diretor, respeitando a complexidade individual do ator, não pode também negligenciar as relações interpessoais.

Os objetivos devem ser claros para toda a equipe. São necessárias metas, níveis de conquistas, níveis de recompensas. É preciso “amarrar” um caminho para manter todos motivados durante a caminhada. É trabalho de produção, mas é também parte do trabalho do diretor. Ter um calendário de evolução artística é dever do diretor. Ter um calendário de exposição de conquistas é tarefa da produção. Objetivos, passo-a-passo, devem ser plantados durante a concepção do trabalho. A confecção de figurino e cenário, a afinação técnica de luz e som, o equilíbrio cênico, são metas artísticas passiveis de “calendarização” que criam sensação de segurança e progressão. Uma leitura dramática, um ensaio aberto, uma pré-estréia, a estréia, são objetivos claros que determinam prazos e concentram esforços. Metas comuns criam unidade.

Determinação de objetivos e valorização da relação com o ator, são apenas dois pontos de uma estrutura muito mais complexa, porém são os pontos nos quais considero ser importante não errar novamente. Estes pontos são a minha sujeira, os entulhos que restaram do edifício anterior e, portanto, é o quê eu desejo limpar para tornar o terreno plano e fértil.

sábado, agosto 28

Voltando a pensar “um” teatro

Este artigo é apenas um pensar em voz alta. Não estou, neste artigo, criando conceitos para uso de outrem, mas sim recapitulando o que é teatro, e qual a função de cada um no teatro, para uso próprio. Este artigo é apenas o meu mapa, que desenho em linhas pouco precisas, quase que uma anotação em um diário pessoal.

Eu estive longe, quis manter distância, e sei que quase nada mudou. O teatro está lá, seu edifício (ás vezes imponente e muitas vezes precário), seus atores, diretores, dramaturgos, cenógrafos, iluminadores, contra-regras (todos ás vezes geniais e muitas vezes ordinários).
Mas que teatro é este que ainda “está lá”? Estão lá as modas, como resistir ao talento de uma ótima geração de comediantes de stand-up?, as companhias acomodadas em suas fórmulas de sucesso, os repetitivos “experimentalistas”, o teatrão burguês capitaneado por estrelas da tv, os musicais que não são daqui, as comédias de sempre e um ou outro “original grito” abafado e sem audiência (grito que pode surgir de qualquer uma das categorias listadas).

E quem é este que quer voltar? Tenho medo de me encaixar na categoria de repetitivo “experimentalista”, tenho ojeriza ao teatrão burguês, poderia até mesmo dizer que tenho alergia ao palco italiano, quero gritar de forma autônoma, mas sei que ainda tenho muito para aprender e experimentar. Até este ponto não constam grandes diferenças entre “o que foi” e “aquele que volta”. A diferença entre outrora e agora é que não sou mais aquele que respirava apenas teatro desde seus 13 ou 14 anos, nos últimos 3 ou 4 anos (mais exatamente desde que terminou a temporada de “Indispensável exercício sobre o nada”, onde anunciei para o ator Geovane Fermac que iria viver a vida real) experimentei ser um qualquer, vivendo a vida com suas dificuldades e conveniências.
Definitivamente não sou o mesmo e isso vai afetar a minha nova/velha maneira de pensar teatro, a vida real me contaminou. Feita a devida contextualização voltemos ao pensar um teatro.


Para começar tenho que pensar no lugar do ator, e com certeza em teatro este deve ocupar o lugar central, mas o lugar central não deve ser ocupado “de qualquer forma” ou “por qualquer motivo”. O lugar do ator é sagrado, portanto não cabe neste lugar o ator meio-termo tão em voga. O lugar central do teatro deve ser preenchido pelo ator santo, ou ator mártir, que é aquele que está por completo em cena, não à toa ou simplesmente por estar, mas porque tem que comunicar algo. O ator não deve se contentar em ser apenas instrumento para as idéias de outros, ao contrário, deve apropriar-se destas idéias e personificá-las, o ator deve ser a idéia em cena.

Agora, vício de origem, quero pensar sobre o lugar do dramaturgo/autor. O dramaturgo é mais um técnico do teatro, assim como o operador de luz, o contra-regra etc., porém quando acumula também a função de autor (o que é corrente, pouco usual é dramaturgo desempenhado apenas seu papel técnico) sua responsabilidade cresce. O dramaturgo/autor tem a responsabilidade de emitir idéias, sejam elas originárias de onde for e destinatárias “do que quer que” seja. Ao autor/dramaturgo cabe pensar de forma completa, sugerir a forma empenhando-se no conteúdo. Um pensador simplista, preguiçoso e superficial, por melhor dramaturgo que possa ser, criará teatro superficial e estéril. A função do dramaturgo/autor é fazer pensar, e para tal seu nível de empenho não pode se limitar ao corrente e lugar-comum.

Por último, mas não com menor importância, quero pensar o papel do diretor. O diretor é um protagonista recente nisto a que chamam de teatro, e chegando tão tarde à trama sua função não é criar essência, mas sim organizar o enredo para uma melhor compreensão. O diretor muitas vezes deve corrigir o dramaturgo (o técnico!), mas erra quando quer corrigir o autor. O diretor deve, sempre, orientar e corrigir (coisas distintas) o ator, mas erra quando quer atuar através do ator. O diretor acerta quando toma para si a criação de um conceito estético que sintetize iluminação, cenário, mise-en-scène e dramaturgia, mas erra quando se concentra em apenas um dos pontos ou ainda quando deixa elementos dispersos. Em resumo a função do diretor é a de criar um conceito estético e coordenar as demais áreas da confecção teatral.

Pensando o meu teatro, um rascunho.

Teatro de proximidade, onde ator/dramaturgo/diretor e platéia comuniquem-se sentimentalmente e debatam ideologicamente. Tudo parte de uma idéia, são fundamentais as sensações. O ator não é um replicante, mas sim um debatedor. O ator é santo, mas não é sagrada a sua morada. Todos os lugares estão aptos ao teatro. Teatro é para dois e para dois mil. Não se afirmam verdades, debatem-se idéias, caminhos... Um teatro reticente. Um teatro ávido pelo complemento de suas camadas ocas. Um teatro que é meu apenas quando já não me pertence.

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quinta-feira, agosto 26

Ecos opacos de um futuro quase brilhante

Hoje o senhor Johnny Kagyn me fez ler algo que eu escrevi há tempos. Um post antigo, nesse mesmo blog onde ele questiona "O que é ser Dramaturgo?" E eu, no mais ingênuo lirismo devolvi metáforas que nem de longe saciam a sede de quem sempre se questiona e sempre vai se debater nos quartos escuros do que é entender a si mesmo, nos úmidos e obscuros subsolos, nas sombras do que achamos que somos. Eu disse:

"É um olhar para dentro de si mesmo e trazer a tona através de meias palavras e imagens inteiras, ecos de intermináveis conversas e memórias e planos futuros, mil futuros possíveis."

Então eu olhei pra dentro de mim, ouvi ecos opacos de um futuro quase brilhante. Chorei, me arrependi de ter chorado em frente a dramaturga sedenta de espaço e sentei-me, a sua frente, pra ter uma conversinha séria com ela. E o que ela me disse em resposta a tanto silêncio e indiferença da minha parte foi isso:

Tristesse
(Milton Nascimento)

Como você pode pedir
Pra eu falar do nosso amor
Que foi tão forte e ainda é
Mas cada um se foi


Quanta saudade brilha em mim
Se cada sonho é seu
Virou história em sua vida
Mas prá mim não morreu


Lembra, lembra, lembra, cada instante que passou
De cada perigo, da audácia do temor
Que sobrevivemos que cobrimos de emoção
Volta a pensar então...


Sinto, penso, espero, fico tenso toda vez
Que nos encontramos, nos olhamos sem viver
Pára de fingir que não sou parte do seu mundo
Volta a pensar então...


Como você pode pedir...

terça-feira, março 6

Série Pesquisar é a alma do negócio!

Estou sem a menor idéia do que o público, especialmente aqui na capital está procurando quando abre o jornal para escolher sua dose de cultura.
A partir deste mês, disponibilizaremos uma pesquisa de opinião por semana.
Para respondê-las, basta escolher a melhor alternativa e postar. Caso queira fazer algum comentário adicional à sua resposta, fique à vontade!


O que te faz ir ao teatro?

a-) Ator/Atriz / Diretor famoso na peça
b-) Algum amigo seu na peça
c-) Texto conhecido
d-) Ingresso em promoção/gratuito
e-) Critica positiva nos meios de divulgação

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terça-feira, setembro 12

Deve ser intelectual metida a besta!

Nesta semana ocorreu algo um tanto inusitado. Bem, além da suspensão da peça que eu estava dirigindo, me fazendo pensar que está cada vez mais injusta a briga entre a preguiça e o teatro... outra coisa semelhante aconteceu.
Na escola de idiomas em que eu trabalho, uma professora criou um exercício muito bacana sobre objetos e seus donos, estimulando os alunos a descobrir mais sobre os professores da escola. Então ela pediu um objeto pessoal de cada professor e levou para sala de aula fazendo perguntas do tipo: O dono deste objeto, é homem ou mulher? Do que essa pessoa gosta? Quais são seus hábitos diários? E assim vai... Terminada a aula, ela voltou a sala dos professores com as seguintes opiniões: Professora X, por seu objeto, um batom, os alunos dissera que você deveria ser muito vaidosa, bem feminina e bonita. Professor Y, por seu objeto, um cd de rock, os alunos disseram que você deveria ser jovem, alegre, cheio de opiniões sobre as coisas do mundo. Professora ALISSANDRA, por seu objeto, um guia da programação cultural da cidade, os alunos disseram que só poderia ser um intelectual metido a besta! Sabe, daqueles que andam com livros embaixo do braço mas que não lê nenhum.

Uau! Todos riram, mas no fundo alguns ficaram chocados, como eu. Quer dizer que agora, aproveitar meu tempo, meu salário ( agora que eu tenho um decente ) e minha saúde pra aprender coisas, ver coisas interessantes e me divertir com teatro é coisa de intectual metido a besta?

Então minhas consideraçoes sobre a batalha Preguiça X Ir ao Teatro mudou um pouco de sentido. Será que as pessoas não frequentam mais as 200 peças em cartaz em São Paulo, por preguiça de sair de casa, ou porque o teatro ficou tão inatingível em sua função e sentido, que ficou algo obsoleto e reservados a pequenos guetos, chamados agora de Intelectuais Metidos a Besta?

sábado, setembro 9

A peça foi cancelada

Sonho de Louco

Como dói mergulhar no mundo fragmentado, esplodido e ensanguentado de um Louco e Ainda ser capaz de entender cada vírgula, cada pausa, cada gemido de dor.
Tudo começou quando li, não a Li me chamou e disse: Se quiser fazer teatro, é só me falar.
Perdida no tempo, gorda, cansada, rouca eu fui. Conheci o Louco e aí sim que tudo começou.
Não acreditava Ainda na volta, mas lia e brincava de ser verdade. Não tinha entendido Ainda tudo, claro, encadeado, mas suava os desejos de um Louco, por ele, por ela (O Louco e sua mulher, não a musa)
Faltava Ainda a viabilidade. Uma festa frustrante nos embebedou a todos e dissemos que Ainda era possível fazer a vontade do Louco.
Depois daquilo um recomeço, sem madeira nem papel e tinta, sem roupas nem sapatos. Ajuda Ainda não tinha, mas a voz já soava alta e os jogos do Louco eram mais nítidos pra mim.
Veio a ajuda, outras tantas ajudas foram pagas que generosidade tem seu preço, sempre. E a imagem do Louco ficou pronta. Fora do lugar, Ainda isso, como levar o sonho do Louco pro lugar que era certo? (Errado, lugar errado, que seja, porra!!!!) E mais generosidade paga em prestações.
Chegou, é aqui, mas não era assim que a gente tinha sonhado! No papel, assinado pelo Louco, empenhando seu nome e salários que não tinha, não estava escrito que tinha que ser como foi sonhado. – “Fodam-se vocês todos! Que pra fazer pêça, tem que investir... hahahaha”
E o Louco e seu sonho deram as caras a primeira vez (Chama-se estréia, bom que se diga). Uma bosta, erros, escuro, cigarro apagado na única hora que devia não estar, vinho derramado, outro esquecido e Ainda a televisão que não devia estar, mas estava, devia ser lembrada e não foi (Erro meu porra! Também quem manda o Louco me deixar sozinha pra fazer e desfazer todo seu sonho depois de tanto tempo longe?) Ah... esqueci, não de falar desta vez, esqueci de dizer agora que Ainda perdi a cabeça pra fora da luz (Perdoa essa atriz que nunca esteve em foco, por não saber que pra ter cabeça tem que ter luz, perdoa vai, ensina...)
E o primeiro delírio do Louco aconteceu diante duns olhos amigos, medrosos das nossas cagadas, mas muito entusiasmados de ver a brincadeira.
Até um par de olhos viu mais do que o Louco escreveu e quis chegar mais perto, pediu e-mail e hoje olha de pertinho, ora vejam! Obrigada, Louco, tenho que te agradecer muito por isso!
Mas o lugar que era errado espantou, confundiu, deu preguiça e ninguém mais viu a gente brincar.
Agora sobrou um último tanto de generosidade pra gente pagar.
Ainda podemos tentar de novo...
Ainda vamos fazer bonito...
Ainda acreditamos nesse jogo... Nem todos, né.
E eu vi o Louco chorar de dor, por uma página branca que um dia ele teve coragem de riscar.

(Te amo Claudio, culpa da Li)

quinta-feira, agosto 24

SuperNova Coletivo de Dramaturgos em Cartaz!




Estreou no último dia 19 de agosto, sábado, a peça teatral "Da Criaçãoda Cena".Esta é a primeira peça do SuperNova Coletivo de Dramaturgos a ir a público.O SuperNova Coletivo de Dramaturgos é um grupo de estudos dramatúrgicos,que depois de um ano de estudos apresenta agora seu primeiro trabalho.Abaixo segue o serviço da peça, o flyer que dá desconto de 50% no ingresso está em http://criacaodacena.blogspot.com/
Conto com a presença de vocês.

Título: Da Criação da Cena
Autor: Claudio Rosa
Direção: Alissandra Rocha
Elenco: Evando Lustosa; Fernanda Sanches; Geovane Fermac; Márcia Nestardo.
Gênero: Comédia
Duração: 50 minutos
Classificação: 14 anos
Sinopse: A partir da distração do dramaturgo com um comercial de TV, personagens de sua peça se rebelam e expõem todo o pensamento do dramaturgo no momento da criação de suaobra.
Local: Teatro Julia Bergmann
Rua Cruzeiro, 256 - Barra Funda > Tel. (11) 3392 4240
Sábado ás 19h00mins e Domingos ás 18h00mins
Ingressos: R$ 16,00 R$ 8,00 (meia entrada)

PRODUÇÃO > SuperNova Coletivo de Dramaturgos > Telefones: 11 3242-7049/ 11 92849393 / / 11 9125-7264 > E-mail: producaosn@gmail.com


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