sexta-feira, março 3

A Classe Teatral e o Corporativismo

A última peça que assisti me fez pensar bastante sobre o corporativismo no teatro. É certo que corporativismo existe em qualquer classe, mas especificamente no teatro não seria o corporativismo uma das raízes de muitos males?

Eu explico. Quando nos furtamos ao direito da crítica e até de negar o aplauso não estamos alimentando a mediocridade, a falta de qualidade, e até mesmo a falta de público? Não seria mais honesto para com o artista a crítica dura e verdadeira em detrimento do afago corporativista?

Acredito que deve existir certa parcela de coragem e responsabilidade para quem se propõe a colocar um produto cultural (uma peça teatral é um produto cultural, visto que o público paga para assisti-la) no mercado. E acredito também que a crítica honesta a montagens medíocres é um dos caminhos para evolução técnica dos profissionais envolvidos na labuta teatral.

A caridade corporativista nos faz esquecer que é a nossa profissão, a nossa paixão, a nossa arte e a viabilidade comercial da mesma que está em jogo. Existem cada vez menos profissionais realmente qualificados e com o nível de exigência da classe nivelado por baixo (os subsolos do nivelamento), só resta ao público se refugiar nas comédias populares de resultado previsível e evitar as peças dramáticas ou qualquer outro gênero que ofereça risco ao seu investimento. Machuca no bolso e no gosto pelas artes cênicas sair do teatro após gastar 10, 15, 20 reais, e constatar que aquele dinheiro foi perdido, que o tempo foi perdido, e que voltar ao teatro será novamente uma aventura amarga.

É importante lembrar que uma peça ruim, dependendo do tempo que fique em cartaz, pode significar que algumas poucas centenas de pessoas que foram ao teatro pela primeira vez nunca mais voltarão.

Portanto, nada de tapar o sol com a peneira. Sejamos nós mesmos sinceros e exigentes com o nosso trabalho e com o trabalho dos colegas da profissão. Nada de meias verdades, de eufemismos... Deixemos o corporativismo para os advogados, para os deputados e para todas as outras “nobres” classes de profissionais que podem se dar a este luxo. Nós não.

4 Comments:

At 8:46 PM, Blogger Johnny Kagyn said...

Nossa, nenhum comentário!
Acho que mexi com o queijo do pessoal... Nem comentam pra discordar, nem concordam para não queimar o filme... Eita corporativismo nosso de cada dia!

 
At 10:34 PM, Blogger Alissandra Rocha said...

hahaha! Deixe eu te tranquilizar e dizer que embora não tenhamos postado nada ainda, seu texto repercutiu no ensaio da peça "Da Criação da Cena" de segunda-feira. Perguntado aos atores como gostaríam de ser enxergados, uns pelos outros, foi unâneme o pedido: SEM CORPORATIVISMO, por favor! Não vamos deixar que a auto-crítica seja nosso único parâmetro para corrigir falhas estruturais. A crítica externa, advinda dos colegas de profissão é tão, ou até mais influente no nosso aprimoramento do que nossa própria censura interna, que as vezes nos leva ao total ostracismo mental.

A prática do corporativismo é em muitas vezes legitimada pelo velho ditado: "O que vale é a Intensão!" Mas não vamos nos esquecer de um outro ditado: " De boas intensões o inferno está cheio!" E os palcos também.

 
At 4:26 AM, Blogger Márcia Nestardo said...

Eu li, querido Kagyn (querido mesmo!!!) no mesmo dia da postagem. Mas como ia chover no molhado, fiquei calada. Esqueci que nosso objetivo aqui é reverberar... Então voltei pra somar uma voz.

Um dia, faz tempo, ouvi dizer que por sua atuação em tal peça, um grande ator foi aplaudido de pé, em cena aberta. Nossa! Reconhecimento de um grande trabalho.

Ultimamente, levantar da cadeira pra aplaudir se confunde com a pressa de ir embora. Um baita constrangimento.

O código mudou? Seremos sempre aplaudidos de pé? Seja qual for a porcaria apresentada?

Prefiro. Preciso. Peço a crítica objetiva e honesta. Só assim, um leve aceno de cabeça e um sorriso de expectador anônimo vão me trazer de volta o prazer do dever cumprido.

 
At 3:19 AM, Anonymous Anônimo said...

feliz.
fico feliz de encontrar parceiros nessa jornada.
é assim q penso, é assim q ajo.
nada de hipocrisias.
sejamos honestos.
sem dó!

 

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