Eu sou aquela
Como é difícil ser falante no meio de uma trupe de letras. Todos aqui são dramaturgos, ou estão desenvolvendo avidamente seus recursos nesse caminho. Eu sou da cena.
Vivo o conflito de querer eu mesma elaborar a idéia, partir do vazio e chegar ao drama, ao sonho encadeado, bem acabado, mas não sei escrever. Tenho minha mochila repleta de assuntos, imagens e fantasias que, muito mais do que vontade, eu preciso realizar. Mas o texto, a estrutura dramática, o rítmo... Acho que não saberia como.
Hoje estou lendo Pirandello. Seis Personagens a Procura de um Autor. E vou dizer o que quero, o que sinto, recorrendo não exatamente ao dramaturgo, embora a ordenação das palavras seja dele, mas ao personagem O PAI que tenta convencer um diretor a deixar-lhe viver sua vida, seu drama rejeitado por outro autor.
"...Nas palavras. Todos trazemos dentro de nós um mundo de coisas: cada qual tem o seu mundo de coisas! E como podemos entender-nos, senhor, se nas palavras que digo, ponho o sentido e o valor das coisas como são dentro de mim, enquanto quem as ouve lhes dá, inevitavelmente o sentido e o valor que elas têm para ele, no mundo que traz consigo?
Pensamos entender-nos... e jamais nos entendemos!..."
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Veja o meu drama não escrito com o qual vou entrar em cena neste momento.
Sou a amante. A vagabunda. A outra que mora na casa que ele montou, que pariu os filhos dele, depende do seu dramaturgo. A mulher que é necessária, na efetivação do sonho escrito, embora seja facilmente substituível. Que busca satisfazer seus desejos secretos nas visitas rápidas e recolhe migalhas de vida, afeição, realização que sobram no colchão depois que ele vai embora.
E se me perguntam, porque não larga dele? Digo com um ar entre lascivo e resignado... Por que eu o amo!
É essa a minha relação com a dramaturgia: Dependência e paixão. Luxúria e resguardo.
Assim vou vivendo minha arte, fazendo a fila, aceitando a fama de me entregar de corpo e voz a todo dramaturgo que escreva as palavras que minha alma deseja proclamar. Orgulhosamente, eu sou Atriz.
Vivo o conflito de querer eu mesma elaborar a idéia, partir do vazio e chegar ao drama, ao sonho encadeado, bem acabado, mas não sei escrever. Tenho minha mochila repleta de assuntos, imagens e fantasias que, muito mais do que vontade, eu preciso realizar. Mas o texto, a estrutura dramática, o rítmo... Acho que não saberia como.
Hoje estou lendo Pirandello. Seis Personagens a Procura de um Autor. E vou dizer o que quero, o que sinto, recorrendo não exatamente ao dramaturgo, embora a ordenação das palavras seja dele, mas ao personagem O PAI que tenta convencer um diretor a deixar-lhe viver sua vida, seu drama rejeitado por outro autor.
"...Nas palavras. Todos trazemos dentro de nós um mundo de coisas: cada qual tem o seu mundo de coisas! E como podemos entender-nos, senhor, se nas palavras que digo, ponho o sentido e o valor das coisas como são dentro de mim, enquanto quem as ouve lhes dá, inevitavelmente o sentido e o valor que elas têm para ele, no mundo que traz consigo?
Pensamos entender-nos... e jamais nos entendemos!..."
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Veja o meu drama não escrito com o qual vou entrar em cena neste momento.
Sou a amante. A vagabunda. A outra que mora na casa que ele montou, que pariu os filhos dele, depende do seu dramaturgo. A mulher que é necessária, na efetivação do sonho escrito, embora seja facilmente substituível. Que busca satisfazer seus desejos secretos nas visitas rápidas e recolhe migalhas de vida, afeição, realização que sobram no colchão depois que ele vai embora.
E se me perguntam, porque não larga dele? Digo com um ar entre lascivo e resignado... Por que eu o amo!
É essa a minha relação com a dramaturgia: Dependência e paixão. Luxúria e resguardo.
Assim vou vivendo minha arte, fazendo a fila, aceitando a fama de me entregar de corpo e voz a todo dramaturgo que escreva as palavras que minha alma deseja proclamar. Orgulhosamente, eu sou Atriz.