quarta-feira, maio 3

Shakespeare e a impossibilidade do acordo em “O Mercador de Veneza”

Publicado originalmente no blog Infinito Particular

Na foto: Al Pacino, Jeremy Irons, Joseph Fiennes e Lynn Collins. Fonte: Divulgação do filme "O mercador de Veneza (2005)"

A obra de Shakespeare é inquestionavelmente a que mais se aproxima da essência humana em seus temas. Ciúme, amor, preconceito, ambição, maldade e muitas outras características humanas são de forma magistral representadas na obra do dramaturgo inglês.
Em “O Mercador de Veneza” Shakespeare aborda a “impossibilidade do acordo”. É afinal o ser humano capaz de honrar acima de todas as coisas seus acordos, seus contratos, suas leis?
Sempre estamos achando caminhos à margem do acordo, justificáveis, porém não menos diferentes do plano original.

Na prática podemos experimentar a mesma coisa quando tentamos formalizar um grupo de objetivos comuns. Com o decorrer do processo o grupo se dispersa ou acaba travando batalhas internas por interesses individuais (vide os partidos políticos, grupos musicais, etc.).
A dificuldade de encontrar pessoas com objetivos comuns e capacidade de honrar a um acordo comum é enorme. Muitas vezes os objetivos iniciais e coletivos são comuns, porém depois de certo tempo, com o sucesso ou a elevação de nível pessoal e/ou coletivo, acabam por se tornar as metas pessoais distintas umas das outras.

Em “O Mercador de Veneza” existem vários acordos a cumprir. O principal é entre o Mercador Judeu (espécie de empresário de empréstimos no séc. XVI) e o comerciante Veneziano, mas existem ainda os acordos entre a filha e o pai, a filha e o amante, entre o homem e seu deus e sua religião, entre os amigos, entre os recém casados... Enfim, no decorrer da peça vai-se ficando clara a impossibilidade de cumprir verdadeiramente um acordo. Sejam por brechas “legais” no acordo, acontecimentos de “força maior”, ou ainda “remorso”, todos os acordos não são “verdadeiramente executados como originalmente planejados”.
É claro que com sua inteligência magistral Shakespeare nos mostra que é inútil levar tudo “a ferro e fogo”, e também nos deixa um alerta sobre a atenção às minúcias quando se fechar um acordo.

Na vida prática e real fica a minha impressão de que qualquer acordo depende da “sorte do encontro”. Encontrar a pessoa certa, com os objetivos certos no momento certo. Só assim se constroem trabalhos de longo prazo e com resultado sólido, seja em arte, seja em amor, seja em economia e política.


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